Inovar se tornou uma necessidade

terça-feira, 7 Agosto, 2018 - 12:10

Entrevista concedida a Folha de Pernambuco em 07-08-2018

Nos últimos anos, a crise econômica se agravou em todo o Brasil e tem exigido dos gestores soluções criativas e inovadoras para não descontinuar os serviços. No Recife, quais atitudes têm sido tomadas para superar este momento?

Eu costumo dizer que no cenário de grave crise econômica que o Brasil passa, inovar não é mais uma opção e se tornou uma necessidade. Governos e iniciativa privada, em todo o país, precisaram procurar nos últimos quatro anos  soluções que fujam do lugar comum para atender as demandas da população em tempos de necessidade. O que vemos é uma concentração de recursos muito grande em Brasília. Em contrapartida, as atribuições só crescem para as prefeituras e os governos estaduais e a gente tem que estar sempre buscando soluções novas e mais baratas para dar continuidade aos serviços. E a tecnologia tem nos ajudado muito nisso. E um trabalho incessante para melhorar resultados e diminuir custos. 

E como a prefeitura tem feito isso? Quais ações estão sendo tomadas pela gestão para incentivar esta inovação no dia-a-dia?

Temos feito um esforço muito grande para envolver a população na gestão pública e acreditamos que cada um é responsável pela transformação social do lugar onde piora e a inovação tem um papel fundamental nisso. Um dos principais exemplos dentro do nosso governo é a transformação que temos feito na educação do Recife. Começamos essa jornada ainda em 2013, investindo e acreditando no potencial das nossas crianças, criamos o projeto Escola do Futuro, colocamos aula de robótica na escola pública e nossos alunos mostraram que, com a oportunidade nas mãos, fazem a diferença pelo talento. Foram duas vezes campeões brasileiros e fazem bonito no exterior. São mais de 70 mil alunos participando desse programa e é onde a gente está vendo despontar um potencial gigante dessa turma. No último mundial de Robótica, eles ficaram entre os oito melhores do mundo e foram os melhores entre todos os países das Américas. O que esses garotos mostraram é o que eu costumo dizer por onde passo: o maior patrimônio do Recife são as pessoas, o talento de nossa gente. No momento atual temos que enfrentar as adversidades para continuar prestando serviços e fazendo investimentos. O Recife tem nos próximos anos a meta de consolidar sua situação como principal polo do Nordeste e chegaremos lá com iniciativas inovadoras e qualidade no serviço público. Já inovamos como a cidade mais transparente do Brasil, com o primeiro Hospital Veterinário do Norte/Nordeste, com o Compaz, que é referência em política pública de segurança cidadã, com o atendimento humanizado no Hospital da Mulher e temos a meta de continuar alcançando conquistas que coloquem o Recife na posição que merece. E vamos atingir essas metas junto com as pessoas, porque foram elas que trouxeram o Recife até aqui e são elas que estão fazendo do Recife a cidade que é sinônimo de inovação em todo o Brasil.

Como os govemos podem inovar e trazer a sociedade para perto das suas decisões?

Um grande exemplo que temos de sucesso na Prefeitura do Recife, que aumenta a capacidade da população de estar junto, exigir e cobrar as soluções com inovação, é o Portal da Transparência do Recife. A gente fez uma atualização, uma modernização no nosso Portal da Transparência e implantamos o conceito de que transparência é muito mais do que publicidade. Transparência é dar acesso ao cidadão às informações que ele está buscando. E o nosso portal persegue justamente isso. Então a gente conseguiu pontuações muito importantes em vários rankings  que foram feitos, como 1º lugar do Brasil na ONG Contas Abertas, conseguimos também nota máxima e primeiro lugar em uma avaliação feita pelo Ministério Público Federal e pela CGU (Controladoria Geral da União). Fazendo isso, a gente amplia a condição do cidadão em poder participar e colaborar com a gestão pública.

No início do seu segundo mandato, foram anunciados cortes para adequar a realidade financeira ao orçamento da prefeitura. O senhor mencionou medidas inovadoras para tirar isso do papel. Conseguiu alcançar essa meta?

Conseguimos desenvolver aqui dentro da casa, com os técnicos da prefeitura, um sistema muito importante, que é um aplicativo, chamado Siga, para gestão da frota de veículos da prefeitura. Nós temos muitos carros alugados, motoristas contratados e muitos usuários em diversas secretarias, então foi desenvolvido um aplicativo no qual a gente conseguiu juntar, no ambiente virtual, os motoristas e os usuários e, com isso, conseguimos reduzir a frota, essa atitude gerou uma economia de R$ 16 milhões, com a redução de 235 veículos. Então foi a busca por eficiência na gestão pública usando, justamente, a inovação. E esse tipo de economia na área nos ajuda a racionalizar os recursos para aplicá-los nas áreas fins, como saúde e educação. O Siga, inclusive, foi premiado no Smart City Business com o prêmio de inovação no serviço público. Outro fator balizador para essa inovação no serviço público foi a decisão de implantar o programa de Dados Abertos. Com isso, nós deixamos disponíveis 61 conjuntos de dados para que a população pudesse participar, conhecer as informações e, inclusive, propor soluções. Foi uma decisão arrojada e fomos a primeira capital do Brasil a tomar uma atitude como esta. Nosso objetivo é que, com base nesses dados, a população fosse protagonista e capaz de criar softwares e aplicativos para ajudar nos serviços públicos da cidade. E os resultados já foram colhidos na nossa olimpíada do Hacker Cidadão, que já está no quinto ano. O projeto é uma maratona de 24 horas, onde os competidores utilizam as informações do banco de dados abertos para propor soluções para a cidade.

Mas, saindo da Prefeitura e percorrendo a cidade, de que maneira essas ferramentas de inovação têm sido afiadas?

As ações estão presentes em várias áreas, na saúde, no turismo e até mesmo no voluntariado. O Transforma  Recife é um grande exemplo do uso da tecnologia para transformação social. Essa tem sido uma experiência transformadora e tem alcançado números muito expressivos. São 85 mil voluntários e 350 associações da sociedade civil cadastrados. Já registramos mais de 1 milhão de horas de serviços voluntários realizados. E, além disso, na área do turismo, a gente lançou mão da tecnologia para criar o Reen Play. E fizemos isso porque o Recife vem crescendo nesse setor, principalmente nesse turismo tecnológico. A prova é que na estreia do evento, tivemos a participação de mais de 5 mil pessoas. Então foi uma oportunidade de ter uma grande troca de experiências sobre games, inovação, robótica, educação tecnológica e sobre as novidades que existem na tecnologia do mundo. Tudo isso acontecendo aqui no Bairro do Recife, onde está instalado o nosso parque tecnológico. Outro ponto determinante para integrar e conectar as pessoas é o Conecta Recife, que democratiza o acesso à internet. A gente já tem hoje 142 pontos de acesso disponíveis para população, em praças, em parques, em estações de integração de metrô e de ônibus, em várias áreas públicas eles podem fazer o acesso. Hoje, temos mais de 160 mil usuários cadastrados, o que representa 10% da população da nossa cidade.

O senhor mencionou essa inovação na saúde e é impossível esquecer da dificuldade que o Recife enfrentou com as arboviroses. E, recentemente, a Prefeitura lançou um aplicativo para mapear a presença dos mosquitos transmissores de doenças. Como funciona? Já tem dado resultados?

Em junho, lançamos o aplicativo Saúde Ambiental Digital para mapear os focos dos insetos, que são transmissores de doenças. E fizemos isso com o DNA da própria gestão, usando a inteligência e o trabalho dos profissionais da Empresa Municipal de Informática (Emprel) e isso só reforça o trabalho de inovação empregado pela gestão para acompanhar os casos e minimizar os riscos. Neste primeiro momento, 60 agentes de saúde receberam smartphones com acesso a mapas, dados e tabelas das localidades visitadas. Tudo vai ser registrado online, com localização georreferenciada do lugar onde foi encontrado o foco do mosquito. Esse histórico vai tornar o trabalho muito mais eficiente. Inicialmente, faremos este projeto piloto e, em seguida, vamos estender para todos os outros bairros. Com base nesses dados, vamos utilizar os relatórios e informações para agir de maneira mais rápida na tomada de decisões e faremos isso de forma assertiva, com base nas informações de cada distrito.